Um pouco sobre a adaptação de livros para obras audiovisuais
É recorrente encontrar obras literárias que fornecem
personagens, tramas e enredos aos formatos televisivos. No cenário
internacional, vários produtos audiovisuais vieram direto dos livros, a exemplo
de Anne with an E, American Gods, The Handmaid's Tale, The
Hundred, 13 reasons Why e Game of Thrones. No cenário brasileiro
não é diferente: inúmeros romances deram origem à telenovelas e minisséries,
como no caso de A escrava Isaura e A Casa das Sete Mulheres.
A princípio, como apontam alguns estudiosos da área da
Comunicação, a adaptação de livros para TV era uma forma de divulgar obras
clássicas e autores consagrados. A fidelidade à obra era cobrada: era uma forma
de respeito à fonte original. Porém, a televisão (bem como seus subprodutos
como séries, novelas e telejornais) desenvolveu uma linguagem própria como meio
de comunicação e foi preciso se adequar às necessidades. Agora, para chegar à
TV, os livros passam por um filtro de escolha de temáticas e ideias a serem
abordadas pelos diferentes gêneros televisivos.
A indústria une as linguagens literárias e televisivas, mas
não esquece das peculiaridades do meio de comunicação audiovisual. Cada
adaptação precisa se adequar à empresa produtora e à empresa que vai transmitir
os episódios da ficção seriada. Além disso, é preciso ficar atento aos
diferentes horários de exibição: cada faixa de horário possui uma audiência
específica. No caso de séries produzidas para serviços de streaming, que não
dependem de uma grade de programação, é preciso pensar que toda e qualquer
audiência pode acessar o produto a qualquer hora e lugar. Talvez essa seja uma
forma de explicar por que as séries da HBO possuem cenas de sexo explícito e as
da Netflix tratam esse tipo de cena de forma mais leve.
As séries adaptadas (e as originais também) são um produto
aberto. Ou seja, dependem da resposta da audiência. A narrativa é construída
passo a passo com a transmissão e pode variar de acordo com os fatores sociais,
econômicos e políticos da sociedade em que está inserida. Por isso, não é raro
ver séries que vão além do que as páginas dos livros apresentam. The Handmaid's Tale, Big Little Lies e 13 reasons Why são exemplos de
adaptações que ultrapassaram a história contada nas obras literárias.
Às vezes, a série adapta o mais fielmente possível o
original, porém insere cenas ou personagens que não estavam no livro. Isso
acontece porque os produtores, roteiristas e diretores decidem o que é “bom
para o público”. Ou às vezes o personagem adicional contribui para que, na
televisão, a história continue a fazer sentido.
Adaptar uma obra que está num livro vai muito além de
reproduzir citações. A obra literária foi feita para ser lida. Quando ela chega
à televisão, ela se torna um produto com uma composição diferente e é feita
para ser escutada (sons, músicas, diálogos) e vista (imagens, legendas, cores e
movimentos). Passar o texto para a TV significa traduzi-lo e ajustá-lo às
convenções próprias do gênero audiovisual. O público, antes leitor e agora
espectador, precisa ter sensibilidade quanto a isso. Cobrar fidelidade da
adaptação pode ser desastroso e perguntas como “Quem é melhor: livro ou série?”
são injustas.
Apesar do vínculo tão forte entre literatura e televisão,
são dois produtos distintos que não admitem comparações entre si. Cada produto
deve ser valorizado, julgado ou comparado, exclusivamente, com os seus iguais,
porque as características de cada um são diferentes. Ou seja: livros devem ser
comparados com livros e séries devem ser comparadas com séries. E isso não
impede que possamos imaginar que nossos livros favoritos, com histórias
fascinantes, um dia se tornem séries adaptadas.
No encontro de abril, o Clube convida você leitor e
espectador a discutir sobre as adaptações literárias nas séries de TV a partir
do livro Anne of Green Gables. Para mais informações sobre o livro e o
encontro, confira aqui.
27/abr – 15h
Livraria Leitura (São Luís Shopping)
ENTRADA GRATUITA
Marque presença no link do evento
Para ver o cronograma de leituras de 2019, aqui
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