12/04/2018

Perfil que virou livro: “Orgulho e Preconceito” como você nunca viu


É uma verdade quase universalmente reconhecida que, uma história clássica como “Orgulho e Preconceito”, em domínio público, permanecerá sendo lida, relida e remexida ao longo dos anos.


E não faltam adaptações que nos levam de volta de tempos em tempos ao universo criado por Jane Austen, fazendo desta história algo tão presente após 200 anos. São livros, séries, filmes, de diversas abordagens, estilos, tramas, que vão de viagem no tempo a zumbis até – sempre, claro, a manter alguma essência do enredo principal.

Tá por fora dessas adaptações?
Conheça aqui sobre algumas delas

Orgulho e Preconceito (filmes)
O Diário de Bridget Jones (livros e filmes)
Lost in Austen (livro e série)
Noiva e Preconceito (filme)
O diário de Mr. Darcy (livro)
Morte em Pemberley (livro e série)
Austenlândia (livro e filme)
As Sombras de Longbourn (livro)
Orgulho e Preconceito e Zumbis (livro e filme)

Diante de tantas referências, é difícil trazer algo novo ou tão surpreendente – difícil, não impossível, pois o que a websérie The Lizzie Bennet Diaries (TLBD) prova é que tudo depende de como a história é contada. Nesta série, o chamado storytelling leva a ficção aos seus mais longínquos limites ao quase nos fazer acreditar que a história é verdadeira. Aqui nossos queridos personagens de Orgulho e Preconceito (OeP) foram transportados do século XIX para o século XXI, na era da informação e das redes sociais, sem deixar para trás suas personalidades ou conflitos. Eles “ganham vida” como nunca, fazendo desta produção uma releitura impressionante e sem igual.


E não para por aí!

Não é uma série comum, em que assistimos toda a dinâmica da história pela telinha – na verdade, em computadores, sistemas androids ou smart tvs, já que o conteúdo está na web. Quando se diz que os personagens “ganham vida”, eles “ganham vida” mesmo. Eles são de carne e osso, falam como a gente, têm (e usam!) redes sociais, têm gostos pessoais, dentre outras coisas, como uma pessoa comum.

Toda a ação da série, aliás, utiliza-se do roteiro da trama original. Adentramos na história a partir dos vídeos de Lizzie Bennet, a protagonista, uma estudante de comunicação que lança um canal para pautar um estudo, que será sua tese. E isso fica ainda maior, pois temos outros personagens com perfis no meio virtual (com interações até!), que funcionam como outros pontos de vista complementares à série. Essa experiência midiática é o que chamamos de transmídia – uma história que é contada em diversas mídias diferentes, de maneira que cada uma contribui com uma parte para o todo. Além do meio audiovisual dos canais no Youtube (de Lizzie, Lydia, outros), temos microblogs de textos e imagens, em atividades pelo Twitter, Facebook, Tumblr e até Pinterest.

Só quem pegou a websérie no ar na época sabe o que é duvidar da realidade ao ver Lizzie e companhia tuitando na timeline.


Não a toa a produção ganhou um Emmy Award
por Programa Interativo Original.



E não para por aí – de novo!

Apesar de toda essa interatividade na web, a produção deu seu toque final quando transformou um elemento da série em um precioso “item de colecionador”. Em extensão à experiência transmídia, surgiram livros! O diário secreto de Lizzie Bennet é este componente essencial, mencionado na série, que guarda grandes segredos do universo TLBD, e As épicas aventuras de Lydia Bennet é o livro que encerra a série, nos dando a oportunidade de um último adeus às irmãs Bennet.


Ao contexto do Clube de Abril, que tem por tema “perfil que virou livro”, O diário de Lizzie Bennet se encaixa de maneira excelente por toda essa bagagem de interatividade e por ser de fato, um perfil (vlog) que virou livro. Ao mesmo tempo que traz uma adaptação de um clássico, concentra todo um panorama que retrata nosso momento virtual, as relações de interatividade, as circunstâncias de produção de conteúdo, o fenômeno intrínseco ao mundo dos youtubers, a recepção de variados fandons, sem falar do quanto nos leva a extrapolar os limites e entendimento da ficção. É, de fato, uma obra que tem muito para dialogar.

O leitor, a propósito, pode se preparar de várias maneiras para o Clube de Abril. Como se pode ver, há diferentes níveis de envolvimento – que começa pela websérie e se fecha pelos livros. Vez que a leitura (nos encontros mensais) não é obrigatória, é possível assistir apenas à série, senão o inverso, ler o livro sem acompanhar a série. É recomendado os dois juntos para que se tenha uma melhor experiência desta manifestação transmídia, claro.

A websérie é bem acessível, está disponível no Youtube e possui legendas em português. Na playlist oficial, são 100 episódios pelo canal da Lizzie Bennet, afora canais complementares (os chamados spin-offs) de outros personagens. Os episódios são bem curtinhos, de 3 a 5 minutos, garantindo uma imersão rápida digna de maratona. Para assistir, postamos um tutorial no nosso instagram (acesse Destaques – veja TLBD serie) de maneiras de como acompanhar e como ativar legendas. Esse tutorial vai ficar disponível apenas neste mês de abril.

Quanto às interatividades, se você é curioso para ver, a produção Pemberley Digital preparou um conteúdo demonstrativo especial para os fãs. Acontece que a série completou 5 anos (foi de 2012 a 2013) e ganhou uma reprise #LBD5Year, que acabou recentemente. As interações do Twitter foram transmitidas em pequenos vídeos, junto a outras imagens, no perfil @thelbdofficial (instagram). São postagens tanto para se encantar quanto para deixar o coração dos fãs na mão.

 

 

Você também pode conferir a reação do fandom na página da série, onde os vídeos foram postados em reprise, e ainda se conectar com essa galera, senão na página, no grupo de facebook.

Sem dúvidas, no último vídeo as emoções devem novamente chegar a seu ápice. Mas a impressão que fica, agora que a série chega ao final, é que TLBD talvez seja uma das séries que mais envolveu seu público, mantendo-se o tempo todo nas mentes dos fãs. E como uma vez que algo cai na web, daqui nunca sai, muita gente ainda descobrirá a série. É certo que talvez o envolvimento (e vício) não seja tão grande como o de quem acompanhou tudo em tempo real, mas não haverá como não se divertir com Lizzie, Lydia e companhia , ou deixar reconhecer a qualidade do trabalho feito pela equipe de Hank Green e Bernie Su. Bruna Romão, do fandom, aqui.

A lembrar, não é preciso ler Orgulho e Preconceito para compreender O diário secreto de Lizzie Bennet. Apesar de seguir o roteiro da história clássica, o enredo se expande. São muitas referências para além da obra austeniana, com cultura pop e fatos mundiais. Algumas destas referências, reunimos abaixo, em curiosidades – no máximo da lei antispoiler que conseguimos ser!



Curiosidades sobre o universo TLBD

Pemberley Digital existe
- No livro, Pemberley Digital é uma empresa de comunicação, de experimentos e desenvolvimento de conteúdos em novas mídias. No real, é a produtora da websérie, especializada em adaptações de clássicos para um novo formato. Além de Orgulho e Preconceito, também já adaptaram Lady Susan (Welcome to Sanditon), Emma (Emma Approved), Frankenstein (Frankenstein MD) e Mulherzinhas (The March Family Letters). Para mais informações, acesse www.pemberleydigital.com

VidCon e Vlogbrothers também existem
- No livro, Lizzie fala sobre eles brevemente, mas se trata de uma grande referência para o contexto da ficção e da realidade. A VidCon é a maior conferência de vídeo bloggers, uma convenção que reúne muita informação sobre Youtube, conteúdo, interatividade, etc; já o Vlogbrothers é um dos grandes canais conhecidos nesse meio, feito pelos irmãos Green – Hank e John Green (sim, o escritor). Eles partiram da ideia de enviar vídeos um para o outro contando novidades, já que moram longe um do outro, e ao postar esses vídeos na internet, a brincadeira acabou ficando maior do que o esperado. Falam sobre o mundo nerd/geek, música, literatura, e até política. O fandom do canal é reconhecido pelo título de Nerdfighteria, onde a comunidade acolhe diversos jovens do mundo inteiro, compartilhando interesses e vivências.
A propósito, Hank Green é um dos co-produtores da websérie em questão, fazendo das citações dele no livro algo como uma “metaprodução” ou “metarealidade”, em que o próprio produtor é uma “celebridade” dentro e fora da ficção. No vídeo abaixo, do canal Vlogbrothers, Hank apresentou pela primeira vez a ideia da série. Traduzimos um trecho para quem não compreende inglês.


Então eu quis fazer algo que ninguém tinha feito antes, uma adaptação online. Pegar um trabalho prévio e transferi-lo para essa nova mídia. Não existe... quer dizer, não tenho referências de isso já ter acontecido. Eu queria algo com uma boa história que amo, e algo que minha mulher gostaria bastante, e que tivesse muita base de diálogo e de personagens, para que fizéssemos, não uma grande produção, com muitos espaços e cenas e tal, mas apenas uma pessoa conversando com uma câmera. É um trabalho ficcional, adaptado em um vlog. A obra que escolhemos foi ‘Orgulho e Preconeito’, porque, sabe, é a melhor história de todos os tempos. É um romance maravilhoso, com personagens envolventes, e fico muito instigado por essa história. E eu não estaria se não fosse pela Katherine (esposa), claro. Ela é uma grande fã de OeP. 
E isso tudo é muito, muito diferente de tudo que já fiz. Eu prefiro fazer um vlog sozinho, mas o projeto envolve atores, o cara do som, produtores, escritores, e então organizar essa galera, o que é totalmente novo para mim. [...] E isso, é realmente contar uma história, tendo que pensar em como fazê-la, como escrevê-la, como transferi-la para o tempo presente, porque não é de nosso tempo. É realmente novo e excitante fazer algo diferente assim. 
E, claro, eu não tenho tempo pra isso, mas cá estou eu fazendo do mesmo jeito, porque fui assim capturado pela ideia. Fico naquela de não saber como apresentar para as pessoas, porque, eu sei que esse projeto é bom, mas o que posso fazer para as pessoas realmente assistirem? Nós fizemos 8 episódios, e pra fazer mais, vamos ter que provar que as pessoas querem assistir. Honestamente, é complicado, porque é bem distante de qualquer outra coisa na linha de ficção, e é possível que não seja uma boa maneira de se contar uma história. Espero que não seja este o caso, não quero que seja este o caso. Se você não gostar, não tem problema. Considero um experimento extremamente animador. E é isso que sinto. Espero que gostem.

#entendedoresentenderão


Você pode acompanhar mais das impressões do Hank neste outro vídeo, onde ele fala sobre a resposta do público – legenda somente em inglês. Para fechar essa seção de vídeos, confira aqui uma filmagem acolhedora dos atores da série, interpretando Hazel e Gus numa leitura de um trecho de A culpa é das estrelas, de John Green. O encontro especial comemorava um ano de lançamento do livro e o sexto do fandom Nerdfighteria. De bônus, um vídeo do episódio 99 comentado pelos produtores. Não abra esse último se você não quer spoilers da série! Também não tem legenda em português nestes. 

Os autores
- Kate Rorick é graduada pela Universidade de Syracuse e mora em Los Angeles. Escreveu para uma variedade de programas de televisão (incluindo Law and Order – Criminal Intent, Terra Nova e The Librarians), bem como escreveu e produziu as webséries The Lizzie Bennet Diaries e Emma Approved, ambas vencedoras do Emmy Awards nas categorias de programa interativo. Em seu tempo livre, ela é a autora de best-sellers de romances históricos sob o nome Kate Noble. Bernie Su foi o produtor executivo e o redator principal das webséries The Lizzie Bennet Diaries e Emma Approved. Também atuou como produtor executivo e diretor da Welcome to Sanditon, além de co-criador de Frankenstein MD e, fora dos projetos da Pemberley Digital, Bernie foi o escritor e diretor de LOOKBOOK, uma série dramática roteirizada para a popular rede social fashion LOOKBOOK.com. Escreveu ainda vários episódios para a série de ficção científica Black Box TV. Também é conhecido por escrever e criar a série Compulsions, aclamada pela crítica, vencedora do prêmio Clicker de Melhor Drama Original na Web, bem como o Streamy Award de Melhor Redação em Série Dramática da Web.

#DarcyDay e aquele link
- Para quem está conhecendo a história agora, já consegue acessar os rostos dos personagens de cara, mas durante o tempo que a série ficou no ar, era tudo um mistério. A expectativa era grande para alguns personagens, como o Darcy. No dia 1ª de novembro de 2012, ele fez sua primeira aparição e o fandom “explodiu” em reação, ficando este dia conhecido como #DarcyDay, marca registrada dos fãs pelas redes sociais. E aquele link, que não podemos revelar, relacionado ao personagem Wickham, não só “existiu” (site falso), como deixou os fãs no chão.

Crossovers
- Domino, o programa “testado” no enredo do universo TLBD, foi uma introdução da produção para dar partida na websérie Welcome to Sanditon, adaptação da novela Lady Susan (Jane Austen) – que não teve o mesmo envolvimento de fãs como na série da Lizzie. Mas na produção seguinte, Emma Approved – que também foi premiada com um Emmy Award por Narrativa Interativa – adaptação de Emma (Jane Austen), o fandom voltou com tudo. Há umas pequenas referências à TLBD e uma personagem em especial aparece de surpresa.

Kickstarter e produtos
- “The Lizzie Bennet Diaries provou que uma história ficcional pode ser contada através de vídeo blogs. O que virá mais?” – foi assim que a Pemberley Digital começou uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar fundos que pudessem cobrir gastos da produção e produtos relacionados à série – como o livro. O financiamento ultrapassou em mais de 400 mil dólares o objetivo de arrecadamento, fechando em 462 mil dólares e mais de 5 mil dvds pré-vendidos.


Bloopers!
- Quem não ama erros de gravação? O dvd oficial reuniu diversos deles, assim como entrevistas e outras coisitas, mas você pode conferir alguns bloopers ainda no youtube!  

Fandom, legendas e livro
- O grupo de fãs no Brasil começou pequeno, entre blogueiros, leitores e também fãs dos irmãos Green. A autora Larissa Siriani foi quem iniciou as legendas, para auxiliar outros fãs que não conseguiam acompanhar a série em inglês. O contato contínuo com a produção possibilitou que as legendas fossem acopladas à série original, de modo que o fandom se uniu e se empenhou em lançar legendas oficiais, comandadas pela Siriani. A força do grupo também fez diferença para trazer o livro para o Brasil, que foi adotado pela editora Verus (adicione no skoob).
E em homenagem à reprise da série, a Larissa fez uma semana de vídeos especiais. Está no canal dela (playlist aqui), com vídeos em inglês e legendas em português!


Dona Moça
- Inspiradas pela webséries no formato iniciado pela produtora Pemberley Digital, um grupo de dentro do fandom brasileiro trabalhou por uma websérie com adaptação de um clássico nacional. Senhora, de José de Alencar, virou Dona Moça, da Adorbs Produções (veja entrevista aqui e aqui). Para assistir a série, acesse aqui.



Espero que tenham gostado deste universo
e contem-nos mais sobre isso no Clube de Abril!


Marque presença no link do evento
28/abr – 15h – na Livraria Leitura
(São Luís Shopping)
Entrada gratuita

Para rever o cronograma de leituras de 2018, aqui


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