15/03/2019

Por que #leiamaismulheres?


Quantas livros escritos por mulheres tem na sua prateleira? Quantos você leu no último ano?

Talvez soe estranho perguntar sobre a quantidade de mulheres autoras na prateleira ou quantas lemos recentemente. Para algumas pessoas, o fato da autoria ser homem ou mulher é irrelevante – e assim deveria ser, se as oportunidades para a escrita e/ou leitura não fossem diferentes por conta de gênero.

Mas talvez você nunca tenha parado pra pensar sobre isso ou nem tenha conhecido alguém que dispense leituras pelo fato da autoria ser uma mulher. Existe. Acontece. E muito mais do que a gente pensa.

Aliás, esse preconceito tem séculos de idade. Desde bem lá atrás, as poucas mulheres que detinham alguma condição para publicar livros, tinham que publicar anonimamente, usar pseudônimos ou usar apenas letras iniciais para “esconder” seus nomes e “enganar” o leitor. Esse panorama, infelizmente, não mudou muito de lá pra cá. Um exemplo mais reconhecido em nosso momento de vivência é o da autora da “Saga Harry Potter”, J.K. Rowling, que também publicou com nome masculino (Robert Galbraith).



As irmãs Brontë, para quem não sabe – Emily (“O morro dos ventos uivantes”), Anne (“Agnes Gray”) e Charlotte (“Jane Eyre”) – ficaram conhecidas como “irmãos Bell”. Charlotte chegou a mencionar em uma carta que “como nossa forma de escrever e pensar não era o que se chamava de ‘feminino’, tínhamos a impressão de que seríamos vistas com preconceito enquanto ‘autoras’”. Até a grande Jane Austen publicou o famoso “Orgulho e Preconceito” de maneira anônima.


Veja mais mulheres que utilizaram pseudônimos masculinos.

Algumas pessoas apontam que a questão é mercadológica, em que autores com “nome neutro” costumam vender mais. Mas nomes neutros nada mais são projeções de nomes masculinos. Entende-se assim que tornar ou se aproximar de um nome masculino seria o necessário para um livro ter bom desempenho.

Como se vê, já se partia do princípio de que ninguém gostaria de ler livros escritos por mulheres, razões estas infinitas e ao mesmo tempo semelhantes, vez que desconsideravam o ponto de vista da mulher e o valor da sua escrita. Mulheres escrevendo era tão absurdo quanto mulheres tomando decisões. Logo, o conteúdo não era o suficiente para seu prestígio e assumir o verdadeiro nome seria colocar tudo a perder.

Então sim, há questão de gênero. Sempre houve.

Talvez isso fique mais claro quando pensamos nos destaques da literatura mundial e na proporção de quantos são nomes masculinos e quantos são assumidamente femininos. Não é que as mulheres não produziam, é que elas encontravam – e continuam encontrando – mais barreiras por serem mulheres.

Na história da literatura brasileira não foi diferente; temos muito mais lembranças e referências de nomes masculinos do que de nomes femininos. Os nomes de mulheres mais (re)conhecidas na nossa literatura são bem recentes se considerarmos que a literatura nacional começou ainda lá na época da colonização.


Rachel de Queiroz, Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Cora Coralina, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Ana Maria Machado – quantas dessas você conhece de nome?

Carolina de Jesus
E quanto a Carolina de Jesus? Ou Maria Firmina dos Reis? E Nísia Floresta, Gilka Machado, Patrícia Galvão? Quantas mais foram dispensadas sem o conhecimento geral?

Conheça mais sobre estas e outras autoras nacionais

Neste cenário, movimentos como o #leiamulheres – e tão logo o #leiamaismulheres e #leiamaismulheresnegras – são importantes para resgatar, destacar e prestigiar autoras que foram e continuam sendo eclipsadas por seus gêneros. Mais que isso, é libertá-las de terem que esconder seus nomes, suas identidades e suas histórias.

Ler mulheres também significa validá-las por seu talento e trabalho, sem delimitar sua escrita a meros estereótipos. O lugar da mulher na escrita é onde ela quiser – seja na mitologia, no suspense, no romance, na comédia, na aventura, na fantasia, o que seja. Por isso, leia mulheres, para dar a visibilidade que merecem e para (re)conhecer o potencial de seus escritos. Leia para que nenhuma mais se submeta a se depreciar por seu gênero.

E leia Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie (e não C.N Adichie!), para o Clube de Março, encontro onde conversaremos mais sobre esses movimentos literários, a autora e a força deste livro para o atual contexto de vivência. Conheça mais sobre a reunião do mês aqui. Programe-se e não deixe de participar!


P.S.: A leitura NÃO é obrigatória.

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