Quantas livros escritos
por mulheres tem na sua prateleira? Quantos você leu no último ano?
Talvez
soe estranho perguntar sobre a quantidade de mulheres autoras na prateleira ou
quantas lemos recentemente. Para algumas pessoas, o fato da autoria ser homem
ou mulher é irrelevante – e assim deveria ser, se as oportunidades para a
escrita e/ou leitura não fossem diferentes por conta de gênero.
Mas
talvez você nunca tenha parado pra pensar sobre isso ou nem tenha conhecido
alguém que dispense leituras pelo fato da autoria ser uma mulher. Existe.
Acontece. E muito mais do que a gente pensa.
Aliás,
esse preconceito tem séculos de idade. Desde bem lá atrás, as poucas mulheres que detinham alguma condição para
publicar livros, tinham que publicar anonimamente, usar pseudônimos ou usar
apenas letras iniciais para “esconder” seus nomes e “enganar” o leitor. Esse
panorama, infelizmente, não mudou muito de lá pra cá. Um exemplo mais
reconhecido em nosso momento de vivência é o da autora da “Saga Harry Potter”,
J.K. Rowling, que também publicou com nome masculino (Robert Galbraith).
As
irmãs Brontë, para quem não sabe – Emily (“O morro dos ventos uivantes”), Anne
(“Agnes Gray”) e Charlotte (“Jane Eyre”) – ficaram conhecidas como “irmãos
Bell”. Charlotte chegou a mencionar em uma carta que “como nossa forma de
escrever e pensar não era o que se chamava de ‘feminino’, tínhamos a impressão
de que seríamos vistas com preconceito enquanto ‘autoras’”. Até a grande Jane
Austen publicou o famoso “Orgulho e Preconceito” de maneira anônima.
Veja mais mulheres que
utilizaram pseudônimos masculinos.
Algumas
pessoas apontam que a questão é mercadológica, em que autores com “nome neutro”
costumam vender mais. Mas nomes neutros nada mais são projeções de nomes
masculinos. Entende-se assim que tornar ou se aproximar de um nome masculino
seria o necessário para um livro ter bom desempenho.
Como
se vê, já se partia do princípio de que ninguém gostaria de ler livros escritos
por mulheres, razões estas infinitas e ao mesmo tempo semelhantes, vez que
desconsideravam o ponto de vista da mulher e o valor da sua escrita. Mulheres
escrevendo era tão absurdo quanto mulheres tomando decisões. Logo, o conteúdo
não era o suficiente para seu prestígio e assumir o verdadeiro nome seria
colocar tudo a perder.
Então
sim, há questão de gênero. Sempre houve.
Talvez
isso fique mais claro quando pensamos nos destaques da literatura mundial e na
proporção de quantos são nomes masculinos e quantos são assumidamente
femininos. Não é que as mulheres não produziam, é que elas encontravam – e
continuam encontrando – mais barreiras por serem mulheres.
Na
história da literatura brasileira não foi diferente; temos muito mais
lembranças e referências de nomes masculinos do que de nomes femininos. Os
nomes de mulheres mais (re)conhecidas na nossa literatura são bem recentes se
considerarmos que a literatura nacional começou ainda lá na época da
colonização.
Rachel
de Queiroz, Cecília Meirelles,
Clarice Lispector, Cora Coralina, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst, Ana Maria Machado – quantas dessas você conhece de nome?
Carolina de Jesus |
E
quanto a Carolina de Jesus? Ou Maria Firmina dos Reis?
E Nísia Floresta, Gilka
Machado, Patrícia Galvão? Quantas
mais foram dispensadas sem o conhecimento geral?
Neste
cenário, movimentos como o #leiamulheres
– e tão logo o #leiamaismulheres
e #leiamaismulheresnegras
– são importantes para resgatar, destacar e prestigiar autoras que foram e
continuam sendo eclipsadas por seus gêneros. Mais que isso, é libertá-las de
terem que esconder seus nomes, suas identidades e suas histórias.
Ler
mulheres também significa validá-las por seu talento e trabalho, sem delimitar
sua escrita a meros estereótipos. O
lugar da mulher na escrita é onde ela quiser – seja na mitologia, no suspense,
no romance, na comédia, na aventura, na fantasia, o que seja. Por isso, leia
mulheres, para dar a visibilidade que merecem e para (re)conhecer o potencial de
seus escritos. Leia para que nenhuma mais se submeta a se depreciar por seu gênero.
E
leia Americanah, da Chimamanda Ngozi Adichie (e não C.N Adichie!), para o Clube
de Março, encontro onde conversaremos mais sobre esses movimentos
literários, a autora e a força deste livro para o atual contexto de vivência. Conheça
mais sobre a reunião do mês aqui. Programe-se
e não deixe de participar!
P.S.:
A leitura NÃO é obrigatória.
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