Texto de Alessandra
Medina
O terceiro ano do ensino médio é
sempre encarado com medo pelos adolescentes, na maior parte do tempo por conta
da pressão que é finalmente terminar a jornada escolar básica e precisar
decidir qual caminho você seguirá a partir daí. O fantasma do ENEM e de outros
vestibulares também é uma dúvida que paira sob a cabeça de muitos jovens, e nem
mesmo as famosas “leituras obrigatórias” são capazes de amenizar o coração dos
leitores mais ávidos. Pelo contrário, estas são muitas vezes encaradas como
apenas mais uma das muitas temerosas obrigações que precisam ser cumpridas
antes do fim do ano letivo — e do começo do resto de suas vidas.
Mas a leitura dos livros de
vestibular não precisa ser um monstro de sete cabeças. Ainda que pouco
atrativos —
especialmente para os leitores mais jovens, que estão inseridos em uma cultura
de infanto-juvenil muito marcante — os livros de vestibular nada mais são do que
obras literárias tão normais quanto quaisquer outras. Tirando, claro, seu
impacto sócio-cultural e histórico; já que são livros de autores nacionais que
marcaram em suas épocas e foram parte proeminente das famosas escolas
literárias que tanto escutamos nas aulas de literatura.
Antes que você diga “livros clássicos? tô fora, só leio meu
resumo e vou embora”, dê uma chance para pelo menos alguns dos livros que
mais são pedidos nos vestibulares Brasil afora. A Revista Galileu fez um ótimo compilado de obras que, à primeira
vista, parecem absolutamente maçantes e fora da zona de conforto; mas, quando
você se permite adentrar aquele mundo, percebe que são histórias que não se
tornaram clássicas à toa.
Dentre a lista devidamente curada
por especialistas, temos Capitães da
Areia, de Jorge Amado, uma aventura tocante sobre meninos de rua que é
relevante até os dias de hoje. Outros nomes que marcam presença são Memórias Póstumas de Brás Cuba, de
Machado de Assis; e O Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna, que inclusive foi imortalizado no cinema
nas mãos de Selton Mello e Matheus Nachtergaele. Você pode conferir a lista
completa aqui.
(Cena do Filme “Capitães da Areia”,
baseado na obra de Jorge Amado)
Já para quem pretende prestar o
vestibular tradicional da UEMA, o PAES (Processo Seletivo de Acesso ao Ensino
Superior), os livros recomendados desse ano são Dias e Dias, de Ana Miranda, uma bela obra que vai contar a
história de vida de Gonçalves Dias sob o olhar feminino da autora; Cais da Sagração, de Josué Montello,
que vai tratar da jornada de um barqueiro que irá “ultrapassar o limite da
vida”, e vai trazer belas lições sobre o valor da força de vontade; e Reunião da Poesia, de Adélia Prado, que
traz toda a obra de vida da poetisa reunida em um único volume. E se mesmo
depois de tudo que foi dito, você, vestibulando, ainda estiver receoso sobre
suas leituras para a aguardada prova, por que não dá uma olhada nessa lista
de dicas que o UOL separou para você.
Claro que, para ler as obras que
são conhecidas por sempre caírem em vestibulares, você não precisa estar em tal
momento de sua vida. De fato, a maioria delas é recomendada para todo mundo; e
duplamente recomendada se você se considera um devorador de livros. Autores
como Machado de Assis, José de Alencar
e Jorge Amado nos dão grandes
percepções para que possamos compreender um pouco melhor a realidade do nosso
país; além, claro, das histórias incríveis e que só adicionam à nossas bagagens
literárias.
E “A Hora da Estrela”, de Clarice
Lispector (nosso livro do mês), não fica atrás, pois, além de uma grande
obra de uma das autoras mais queridinhas dos vestibulares, traz uma bagagem
excelente à nossa expansão de percepção.
(Cena do Filme “A Hora da Estrela”,
com Marcélia Cartaxo no papel de Macabéa)
Clarice levou nossa literatura a
outro patamar. Ela deixou os modelos muito fechados e muito roteirizados para
explorar o além de encadear fatos. Nascia assim uma literatura que olhava mais
para o interior de seus personagens, obras intimistas que traziam à tona o que
muito fica(va) guardado – como os pensamentos, o fluxo de consciência, as
engrenagens da mente e percepção. O foco em sentimentos e sensações foi um
traço forte que promoveu essa quebra do modelo literário, que chocou a muitos e
impressionou na mesma medida. A expressão livre e desordenada, tal qual é nosso
inconstante interior, era o melhor registro. Uma inovação literária, por assim
dizer.
“A Hora da Estrela” certamente é uma escolha interessante para trazer à baila toda essa discussão sobre o
contato de alunos com os livros clássicos em sala de aula, o apego ao estudo de
tais misturado à leitura e compreensão das obras, experiências, preparo e até maturidade
literária dos alunos diante de obras tão fortes. É com uma recepção literária
de dividir águas que Clarice estrela
o Clube de Agosto (aqui).
Não perca!
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