23/08/2018

Os Livros Mais Temíveis

Como fazer de leituras tão assustadoras, quanto as do vestibular, se tornarem prazerosas?

Texto de Alessandra Medina


O terceiro ano do ensino médio é sempre encarado com medo pelos adolescentes, na maior parte do tempo por conta da pressão que é finalmente terminar a jornada escolar básica e precisar decidir qual caminho você seguirá a partir daí. O fantasma do ENEM e de outros vestibulares também é uma dúvida que paira sob a cabeça de muitos jovens, e nem mesmo as famosas “leituras obrigatórias” são capazes de amenizar o coração dos leitores mais ávidos. Pelo contrário, estas são muitas vezes encaradas como apenas mais uma das muitas temerosas obrigações que precisam ser cumpridas antes do fim do ano letivo e do começo do resto de suas vidas.


Mas a leitura dos livros de vestibular não precisa ser um monstro de sete cabeças. Ainda que pouco atrativos especialmente para os leitores mais jovens, que estão inseridos em uma cultura de infanto-juvenil muito marcante os livros de vestibular nada mais são do que obras literárias tão normais quanto quaisquer outras. Tirando, claro, seu impacto sócio-cultural e histórico; já que são livros de autores nacionais que marcaram em suas épocas e foram parte proeminente das famosas escolas literárias que tanto escutamos nas aulas de literatura.


Antes que você diga “livros clássicos? tô fora, só leio meu resumo e vou embora, dê uma chance para pelo menos alguns dos livros que mais são pedidos nos vestibulares Brasil afora. A Revista Galileu fez um ótimo compilado de obras que, à primeira vista, parecem absolutamente maçantes e fora da zona de conforto; mas, quando você se permite adentrar aquele mundo, percebe que são histórias que não se tornaram clássicas à toa.

Dentre a lista devidamente curada por especialistas, temos Capitães da Areia, de Jorge Amado, uma aventura tocante sobre meninos de rua que é relevante até os dias de hoje. Outros nomes que marcam presença são Memórias Póstumas de Brás Cuba, de Machado de Assis; e O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que inclusive foi imortalizado no cinema nas mãos de Selton Mello e Matheus Nachtergaele. Você pode conferir a lista completa aqui.

(Cena do Filme “Capitães da Areia”, baseado na obra de Jorge Amado)

Já para quem pretende prestar o vestibular tradicional da UEMA, o PAES (Processo Seletivo de Acesso ao Ensino Superior), os livros recomendados desse ano são Dias e Dias, de Ana Miranda, uma bela obra que vai contar a história de vida de Gonçalves Dias sob o olhar feminino da autora; Cais da Sagração, de Josué Montello, que vai tratar da jornada de um barqueiro que irá “ultrapassar o limite da vida”, e vai trazer belas lições sobre o valor da força de vontade; e Reunião da Poesia, de Adélia Prado, que traz toda a obra de vida da poetisa reunida em um único volume. E se mesmo depois de tudo que foi dito, você, vestibulando, ainda estiver receoso sobre suas leituras para a aguardada prova, por que não dá uma olhada nessa lista de dicas que o UOL separou para você.


Claro que, para ler as obras que são conhecidas por sempre caírem em vestibulares, você não precisa estar em tal momento de sua vida. De fato, a maioria delas é recomendada para todo mundo; e duplamente recomendada se você se considera um devorador de livros. Autores como Machado de Assis, José de Alencar e Jorge Amado nos dão grandes percepções para que possamos compreender um pouco melhor a realidade do nosso país; além, claro, das histórias incríveis e que só adicionam à nossas bagagens literárias.

E “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector (nosso livro do mês), não fica atrás, pois, além de uma grande obra de uma das autoras mais queridinhas dos vestibulares, traz uma bagagem excelente à nossa expansão de percepção.


(Cena do Filme “A Hora da Estrela”, com Marcélia Cartaxo no papel de Macabéa)

Clarice levou nossa literatura a outro patamar. Ela deixou os modelos muito fechados e muito roteirizados para explorar o além de encadear fatos. Nascia assim uma literatura que olhava mais para o interior de seus personagens, obras intimistas que traziam à tona o que muito fica(va) guardado – como os pensamentos, o fluxo de consciência, as engrenagens da mente e percepção. O foco em sentimentos e sensações foi um traço forte que promoveu essa quebra do modelo literário, que chocou a muitos e impressionou na mesma medida. A expressão livre e desordenada, tal qual é nosso inconstante interior, era o melhor registro. Uma inovação literária, por assim dizer.

A Hora da Estrela certamente é uma escolha interessante para trazer à baila toda essa discussão sobre o contato de alunos com os livros clássicos em sala de aula, o apego ao estudo de tais misturado à leitura e compreensão das obras, experiências, preparo e até maturidade literária dos alunos diante de obras tão fortes. É com uma recepção literária de dividir águas que Clarice estrela o Clube de Agosto (aqui). Não perca!

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